Otite de Verão

Chegou o verão e junto com ele aparecem os casos de dores de ouvido. Você já percebeu como são comuns no verão?
A otite externa, mais conhecida como otite dos nadadores ou otite de verão, é uma doença inflamatória e infecciosa muito frequente nessa estação, causando incômodo recorrente em quem gosta de curtir praia e piscina, e que nada tem a ver com a estação mais divertida do ano.
O verão está associado a uma maior incidência de casos (80,5%) de otite externa, em relação ao resto do ano (19,5%)¹. Mais comum em crianças com idades entre 6 e 36 meses, ela pode incomodar pessoas de qualquer idade. A otite externa aparece mais nos meses de verão, por conta que, nas férias, as pessoas tendem a permanecer bastante tempo dentro de rios , praia ou piscina. Esse excessivo contato com a água faz com que a pele que recobre o ouvido fique engilhada, macerada como também, podem aparecer microfissuras, propiciando a penetração e infecção por fungos e bactérias causadoras das otites.
A otite externa pode surgir, ainda, de lesões na pele da orelha provocadas por pequenos traumas, devido ao uso inadequado de objetos como “cotonetes”, grampos ou a nossa própria unha. Atritos durante crises de coceira ou a secagem da orelha podem ter o mesmo efeito e, assim, dar início a uma inflamação.
Os principais sintomas da otite externa são: dor (70%), prurido (60%), perda auditiva (32%) e sensação de ouvido tampado (22%). Podem aparecer, também, inchaço e presença de secreção (esbranquiçada ou amarelada e com odor ruim).
Em um estudo recente que identificou 202 espécies bacterianas causadoras de otites externa, revelou que a mais frequentemente isolada foi a Pseudomonas aeruginosas (38%)², seguida de staphylococcus epidermidis (9,1%) e staphylococcus aureus (7,8%).
Maus hábitos de higiene, como utilização de cotonete ou introdução de outros objetos estranhos, que empurram a cera para dentro do ouvido, também podem provocar a otite.
Apesar de ser curada por meio de tratamento simples, é preciso procurar um médico especializado para avaliar o nível dessa infecção e encontrar a medicação mais propícia para acabar com a dor e evitar que a otite se agrave e evolua para doenças mais graves, que podem até levar à morte.
Muitos pacientes só procuram um otorrinolaringologista após tentarem acabar sozinhos com a otite, e não suportarem mais a dor. E aí é onde mora o perigo. Só um médico especialista pode avaliar o grau dessa infecção, se aguda ou crônica, e qual a forma de acabar com ela.
Um exame simples e indolor que é feito pelo otorrinolaringologista pode detectar a otite e, se a infecção ainda estiver no início, o tratamento poderá ser simples será simples.
Lembrando que há também, pacientes que recorrem aos tratamentos caseiros, mas é preciso deixar claro que eles são perigosos e não substituem o tratamento clínico receitado por um otorrinolaringologista.
Não se automedique ou interrompa o uso de um medicamento sem antes consultar o seu médico.
Mas que tal nos prevenir?
- Para prevenir a otite é preciso evitar limpar os ouvidos com cotonetes porque o uso destes é proibido e perigoso. A forma adequada para realizar a limpeza deve ser com uma toalha de tecido ou papel recobrindo o dedo e passando apenas na entrada do conduto;
- Tomar banho com toucas de natação na piscina e/ou mar e, quando houver a entrada de água nos ouvidos, não introduzir nenhum objeto para secar, pois pode haver traumatismo da pele do conduto, favorecendo o aparecimento das otites;
- Inclinar a cabeça e dar batidinhas no lado oposto ao afetado para remover a água do canal auditivo;
- Nunca pingar no ouvido substâncias como: álcool, leite materno, óleos, receitas caseiras ou medicamentos sem prescrição médica. Além de prejudicial, pode causar a perda parcial/completa da audição (surdez);
- Não retirar o cerume (a chamada cera de ouvido), por completo, pois o mesmo possui propriedades protetoras do ouvido, impedindo o acúmulo da água e a proliferação de bactérias causadoras das otites. Algumas pessoas produzem exageradamente o cerume e, nesses casos, a retirada do cerume deve ser feito por um médico otorrinolaringologista;
- A cada 30 minutos dentro da água a criança deve permanecer o mesmo período (30min) fora da água para que o ouvido seque por completo;
- Não introduzir no ouvido objetos, como clips, grampo de cabelo, bocal de caneta ou palito de dente, causadores de traumatismo local;
- Sempre proteger os ouvidos dos recém-nascidos na hora do banho;
- Não compartilhar utensílios de uso pessoal, como fone de ouvido ou estetoscópio;
- Uma dica para as mamães é privilegiar o aleitamento materno, mas cuidar e evitar deixar que o bebê tome mamadeira ou mame deitado, pois a posição horizontal favorece a passagem de líquidos para a tuba auditiva.
E claro, não custa bater na mesma tecla: lave as mãos com água e sabão com frequência e mantenha as vacinas em dia.
Com todos esses cuidados é só aproveitar o verão!
*Dr. Gleydson Lima dos Santos – Médico Otorrinolaringologista formado pela Universidade Federal de Alagoas. Residência médica em Otorrinolaringologia pelo Hospital Santa Casa de Misericórdia de Maceió.